Em 2022 o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou a expectativa de vida em 77 anos no Brasil, um dado crescente em relação ao ano anterior e que nos faz refletir sobre a saúde pública do país.
No que diz respeito à própria definição de “expectativa de vida”, fatores como saúde, saneamento básico, assistência social, emprego, índices de violência e ausência ou presença de guerras e conflitos políticos afetam diretamente o tempo de vida da população.
Em meio a esses possíveis e difíceis cenários, buscamos a tão sonhada conquista de uma vida longa e saudável, até porque, conforme apontam estudos, apenas 10% da nossa longevidade é ditada pelos traços genéticos, enquanto todo o resto corresponde ao nosso estilo de vida.
E se, dentro da nossa realidade, há a possibilidade de transformar a forma como vivemos a nosso favor, existe razão para não fazer isso?
Partindo desse questionamento, saiba como algumas comunidades no planeta conseguem chegar aos 100 anos com lucidez e saúde.
As Blue Zones são regiões do planeta em que as pessoas têm uma expectativa de vida substancialmente maior do que a média mundial.
Lar dos centenários mais lúcidos da história, as Blue Zones abrigam muito mais do que pessoas saudáveis, mas também pessoas com propósito e um estilo de vida regrado.
São 5 as regiões pelo mundo em que a expectativa de vida é consideravelmente maior:
1. Província de Nuoro, em Sardenha, na Itália;
2. Província de Okinawa, no Japão;
3. Cidade de Nicoya, na Costa Rica;
4. Ilha de Ikaria, na Grécia;
5. Loma Linda, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores Gianni Pes e Michel Poulain e o escritor Dan Buettner se empenharam em entender porque algumas regiões do planeta tinham tantos centenários, enquanto outras tinham uma expectativa de vida muito curta.
No começo, acreditava-se que tudo girava em torno da alimentação das pessoas desses locais. Entretanto, ficou claro com o decorrer das pesquisas que se tratava de algo maior: um estilo de vida verdadeiramente saudável.
Uma maneira de levar a vida e conviver em sociedade com outros valores culturais, de modo que a qualidade de vida se torna maior e consequentemente as pessoas são mais saudáveis e vivem mais.
Atualmente, Buettner tem diversos livros publicados, trazendo para toda a sociedade alguns insights de como conquistar mais longevidade através das práticas e da cultura dessas regiões.
Além disso, os pesquisadores também se empenham em analisar os dados quantitativos dessas populações a fim de ter um compreendimento progressivamente maior sobre o que acontece ali.
Ao longo de todos os anos de pesquisa, diversas teses foram descartadas, outras lapidadas e algumas seguem evoluindo dentro do seu escopo inicial, mas o que ficou claro foi que essas pessoas têm princípios para um estilo de vida específico que garante a elas qualidade de vida e consequente longevidade.
O autor Buettner publicou o chamado “The Power 9”, que consiste em uma lista de 9 poderosas práticas para o dia a dia que seriam as responsáveis pela expectativa de vida tão alta nas Zonas Azuis.
Para viver em harmonia com o eu e o outro, existem alguns princípios de vida que norteiam a cultura das populações das Blue Zones. São elas:
1. Mova-se naturalmente: esse grupo de pessoas não despende tempo em academias ou maratonas, garantem uma vida de movimentação orgânica e natural;
2. Propósito: um divisor de águas na vida dos habitantes das Blue Zones, ter um propósito para acordar de manhã é o que os coloca em movimento;
3. Downshift: viver em uma Blue Zone não elimina o estresse, mas os habitantes dessas regiões sabem como lidar com ele. Os okinawanos reservam alguns momentos todos os dias para lembrar de seus antepassados, os adventistas oram, os icarianos tiram uma soneca e os sardos fazem um happy hour.
4. Regra dos 80%: chamada de “Hara hachi bu”, o mantra de Confúcio é aplicado na realidade dessas pessoas para reconhecer a hora certa de parar de comer – quando estamos 80% satisfeitos.
5. Plant Slant: a alimentação nas Zonas Azuis é majoritariamente baseada em plantas, e o baixo consumo de carne parece ser um fator determinante para a saúde boa dessas pessoas;
6. Vinho das 17h: pessoas de todas as Blue Zones, exceto adventistas, tomam uma taça de vinho diariamente às 17h, com amigos e comida;
7. Pertencimento: o senso de pertencimento através de práticas religiosas é parte da realidade dessas comunidades;
8. Família e entes queridos em primeiro lugar: tempo de qualidade com a família e entes queridos é uma prioridade do começo ao fim da vida;
9. Tribo: o fato de nascerem e crescerem em um local com cultura de tribo e comunidade forte faz com que os moradores das Blue Zones
Por mais que não seja possível abandonar nossa realidade para viver em uma Blue Zone e mudar totalmente a forma como conduzimos nossa vida, existem muitas lições que podemos aprender com essas comunidades para ter mais longevidade, assim como eles.
1 – Ser socialmente ativo a vida toda
Com pilares fortes como a família, o pertencimento e o senso de propósito, ficou clara a importância de manter uma vida socialmente ativa até a terceira idade.
Nas Zonas Azuis essa é uma realidade, até mesmo os centenários estão sempre bem acompanhados de seus familiares e pessoas queridas.
Garantir uma vida socialmente ativa estimula nosso funcionamento cerebral e garante a saúde do corpo e da mente nas idades mais avançadas, que é quando tendemos a ficar mais solitários.
2 – Corpo e mente ativos
Como você viu, não se trata de um grupo de atletas ou pessoas que investem muito tempo em musculação e exercícios físicos. Entretanto, são pessoas que não deixam a prática de exercícios físicos de lado e optam por ter uma vida mais ativa do começo ao fim.
As atividades físicas garantem alterações químicas e regulações hormonais que impactam diretamente na saúde mental, além de, é claro, promoverem resultados fantásticos para a saúde do corpo.
3 – Valores culturais
Indo além da religiosidade, as comunidades das Blue Zones nos inspiram a nos conectar com nossa espiritualidade e fé acima de tudo. Essa é uma prática que pode aumentar a expectativa de vida diretamente.
Os valores culturais e o apreço por eles também tem forte apelo ao passo que são pessoas que vivem a vida com prioridades diferentes das nossas, que estamos focados em outras prioridades e, muitas vezes, batalhando por direitos básicos.
4 – Uma vida com propósito
O senso de propósito na vida pode ser o fator de maior relevância aqui para a saúde mental dessas pessoas. Quando vivemos sem propósito, é difícil sustentar rotinas exaustivas em função de algo que nem faz sentido para nós ou que não fará mais parte da nossa vida quando envelhecermos.
Em uma era de conectividade e transformação digital, escolher e abraçar um propósito de vida pode ser desafiador, isso é fato. Entretanto, se não soubermos o que estamos buscando em um sentido mais profundo da questão, ficará cada vez mais difícil lidar com as dificuldades e adversidades.
5 – O papel da alimentação
A alimentação tem um papel central na saúde dos moradores das Blue Zones, que garantem alguns bons anos de expectativa de vida conforme garantem uma alimentação majoritariamente baseada em plantas e com baixo consumo de carne.
Além disso, a regra dos 80% conduz o dia a dia alimentar dessas comunidades para a ausência de desperdício e do consumo compulsivo de alimentos.
Por fim, o estresse reduzido associado à alimentação regrada reduz radicalmente a incidência de doenças do estômago.
Um excelente primeiro passo é lançar um olhar analítico para a forma como você se alimenta atualmente.
Ademais, criar hábitos como a proximidade com pessoas especiais, garantir mais mobilidade corporal e prática de exercícios físicos, levar uma vida com propósito e pertencimento e investir na saúde psicológica são medidas a se considerar também.
Mesmo que você não queira viver cem anos, com certeza você deseja ter saúde para viver sua velhice e sem sombra de dúvidas não quer experienciar esse momento da sua vida em completa solidão.
Você pode estar se questionando se esses lugares são livres de criminalidade e problemas sociais.
Os habitantes das Blue Zones também passam por adversidades culturais, sociais, econômicas e políticas, a diferença é a forma como eles gerenciam essas situações dentro de seus lares.
Então, é como um convite para que você faça o mesmo na sua casa, em sua vida.